sexta-feira, 27 de novembro de 2009

CEF DEVE PAGAR R$ 750 MI POR 37% DO PANAMERICANO

A Caixa Econômica Federal vai comprar 49% do capital votante do Banco PanAmericano, em operação que seguirá moldes semelhantes à associação entre Banco do Brasil e Banco Votorantim neste ano. Pelo negócio, a Caixa deverá pagar algo em torno de R$ 750 milhões ao grupo Silvio Santos. Segundo o Valor apurou, a Caixa também deve comprar parte das ações preferenciais (PN) pertencentes ao empresário. O grupo Silvio Santos detém, por meio de três empresas, 100% do capital votante do banco e 41,3% das ações PN. A Caixa ficaria com metade dessa fatia, algo em torno de 20% das PNs do PanAmericano. No total, portanto, o banco federal assumiria cerca de 37,5% do capital total do Panamericano.

Os contratos ainda não foram assinados, mas a negociação está próxima do fim. Diante do vazamento de informações, ontem, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) cobrou explicações do PanAmericano. Até o fechamento da edição o banco não havia enviado comunicado ao mercado. A Caixa não tem ações em bolsa. As ações do banco do grupo Silvio Santos têm subido fortemente, em parte por conta dos rumores da compra. Em novembro, o papel acumula alta de 41,98% e, no ano, valorização de 283,21%. Ontem, a ação PN fechou a R$ 9,30, com alta de 1,08%.

Toda a operação está sendo desenhada para que não configure aquisição de controle pela Caixa. Isso porque o PanAmericano, diferentemente do Votorantim, tem ações preferenciais negociadas em bolsa e, pelo estatuto social do banco, todos os preferencialistas têm direito a receber o mesmo valor pago ao controlador em caso de alienação do controle. Ou seja, a Caixa poderia ser obrigada a realizar oferta pública de aquisição de ações para os minoritários exercerem o direito de "tag along".

Caixa e PanAmericano assinarão um acordo de acionistas para compartilhar a gestão do banco. No conselho de administração, o mais provável é que haja equilíbrio entre o número de representantes indicados por cada lado. Haverá também conselheiros independentes. Na operação entre BB e Votorantim a questão da governança do banco foi a mais complicada e quase inviabilizou o fechamento do negócio. O Votorantim relutava em compartilhar a gestão e o BB não abria mão de ter papel decisivo.

A auditoria dos números do PanAmericano pela equipe da Caixa demorou mais do que o esperado e levou dois meses.

O maior atrativo do negócio para a Caixa é a atuação conjunta sobretudo nas áreas de financiamento para aquisição de veículos e empréstimos com consignação em folha de pagamento.

O modelo semelhante ao desenhado entre BB e Votorantim permitirá que o PanAmericano continue com controle privado e, portanto, mantenha agilidade para competir no mercado. Bancos do controle do governo têm mais restrições para operar, como a obrigatoriedade de fazer licitações para abrir agências e concursos públicos para contratar funcionários. A ideia é fazer uma blindagem para evitar nomeações políticas.

A aquisição de ações do PanAmericano será feito por meio da CaixaPar, a empresa de participações criada pela Caixa no início ano. Esse não deverá ser a única operação. O banco federal negocia parcerias semelhantes com outras instituições financeiras. O seu interesse inclui áreas como "leasing", serviços financeiros como cartões de crédito e financiamentos a médias empresas. Também está à procura de uma nova seguradora para oferecer seguro de financiamentos imobiliários, depois que uma medida provisória (MP) editada pelo governo extinguiu a exclusividade que o banco tinha com a Caixa Seguros nesse produto financeiro.

A busca de parceiros estratégicos é a forma encontrada pela Caixa para manter o rápido ritmo de expansão de sua carteira de crédito, que cresceu 61,9% nos 12 meses encerrados em setembro. O diagnóstico dentro do banco federal é que, para crescer mais rapidamente, será fundamental contratar crédito fora de suas agências, atuando no chamado segmento de não-clientes.

O chamado crescimento orgânico, pela abertura de novas agências, é particularmente caro e demorado em um banco público por causa de fatores como lei de licitações e obrigação de realização de concursos públicos. Além disso, o crédito contratado nas próprias agências tem um alto custo fixo, representado pelas instalações físicas e funcionários.

O objetivo, com as parcerias, é procurar os clientes fora das agências, por dois motivos. Primeiro, porque grande parte do crédito é contratada nas redes varejistas. Os consumidores, por exemplo, vão às agências de automóveis para comprar um carro e, na própria loja, contratam o crédito. Hoje, a Caixa tem poucas parcerias com redes varejistas. Segundo motivo: fora das agências, a Caixa trabalha sobretudo com custos variáveis, como comissões para a contratação das operações de crédito.

O Banco PanAmericano tem uma posição bastante consolidada em financiamentos de automóveis. Sua carteira no segmento somava R$ 3,251 bilhões em junho, ou 50,3% de sua carteira de crédito, segundo o balanço mais recente do banco. A Caixa não diz em seu balanço quanto é sua carteira de veículos. Em setembro de 2009, a rubrica do balanço denominada "outros créditos", entre os quais se incluem financiamentos de veículos, somava R$ 883 milhões. É pouco, comparado com uma carteira de crédito de R$ 111,958 bilhões registrada no balanço.

Para o PanAmericano, a lógica da operação é ter uma base de captação mais estável e com custos mais baixos, que só um grande banco de varejo é capaz de proporcionar. Sem rede de varejo, o PanAmericano capta sobretudo por meio de depósitos a prazo de grandes clientes, com juros relativamente altos, se comparados com os bancos de varejo. A estrutura mais cara de captação faz com que, do lado do ativo, o banco procure emprestar nos segmentos mais rentáveis do mercado. Sua presença no segmento de veículos novos, com margens mais apertadas, é menor do que no segmento de semi-novos, com até cinco anos de uso. O banco também opera no segmento de veículos com mais de cinco anos de uso. Uma parceria com a Caixa permitiria ao banco captar mais barato e atuar mais fortemente no segmento de veículos novos.

Além de veículos, outro segmento forte no PanAmericano é o crédito consignado, com R$ 952 milhões em junho, ou 16,6% da carteira. O banco também atua na área de leasing (a Caixa não tem empresa no segmento) e em cartões de crédito.

Fonte: Valor Econômico

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