quarta-feira, 15 de junho de 2011

Descomissionamento no BB é perseguição


Gerentes são pressionados a se candidatar para cargos inferiores aos que ocupam atualmente



São Paulo – A atual estrutura organizacional imposta pela direção do Banco do Brasil tem deteriorado as relações no trabalho. O resultado é a geração de um ambiente onde almejar um cargo se tornou uma disputa desumana, criando um ambiente de assédio moral.

Segundo dirigentes sindicais têm apurado em diversos locais, atualmente a lógica é tão perversa que o cumprimento de metas é colocado acima de tudo, a concessão do abono é vinculada ao resultado das vendas, as férias estão proibidas no mês de junho e há ameaças constantes de descomissionamento.

Diante dessa situação, o Sindicato procurou as gerências regionais e gerentes para debater e buscar o restabelecimento do respeito nas relações de trabalho. Os gerentes, no entanto, negaram que as denúncias tivessem procedências. “Deixamos claro que não abriremos mão de nossa responsabilidade de defender os trabalhadores. Foi assim que fizemos nos protestos nas agências USP e Trianon, pois não há dinheiro ou PLR que justifique o desrespeito e assédio moral”, afirma o dirigente sindical Hildo Montenegro.

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Abuso – Mesmo depois da reunião, em novas visitas às agências o Sindicato apurou que o procedimento piorou. Além de sofrerem com as ameaças verbais, os bancários da Gerência Regional de Varejo Centro Sul que não estão alcançando as metas, são intimidados a se cadastrar em cargos inferiores, reduzindo sensivelmente sua remuneração mensal.

Segundo Hildo, a prática tem por objetivo punir gerentes que não batem as impossíveis metas, tirando do atual gestor a responsabilidade do descomissionamento e, caso seja inquirido, poderá argumentar que a iniciativa dos funcionários foi “voluntária”. “Não vamos aceitar esse absurdo. Isso tem afetado a auto-estima e a saúde dos bancários”, diz o dirigente.

Pressão – O Sindicato já promoveu uma série de atos em vários locais denunciando a situação dos bancários do BB. E, em mesa de negociação, cobrará do banco que assine o acordo que prevê a adoção do instrumento do combate ao assédio moral conquistado pelos trabalhadores na Campanha Nacional Unificada de 2010. “Mas se a situação não mudar e os gestores continuarem humilhando e pressionando os bancários, vamos protestar em todas as agências onde isso estiver acontecendo. Se tivermos de fazer isso o ano inteiro, vamos fazer, até que a direção do BB entenda que tem de respeitar seus funcionários”, afirma a secretária-geral do Sindicato, Raquel Kacelnikas.

A dirigente destaca ainda que o BB montou uma estrutura que deixa o funcionário refém da comissão para ter uma remuneração mais digna. “Isso acontece porque a comissão não está no espelho (holerite) do funcionário e, sim, no posto do banco, que ele pode tirar a qualquer tempo”, critica Raquel. “Além disso, se o funcionário vier a adoecer e se afastar por mais de 90 dias, perde a comissão. Ou seja, é punido duas vezes: adoece e perde a comissão.”

Outro problema apontado pelos funcionários e que as metas são distribuídas de acordo com o tamanho da agência e regional e não pelo porte da região em a unidade está localizada. “Tudo isso propicia o assédio, o adoecimento, o sofrimento do trabalhador. Não é esse o banco que os funcionários querem. Não concordamos com isso e reivindicamos mudança profunda na política do BB, valorizando o ser humano, com o bancário tendo condição de exercer seu trabalho dignamente, sem sustos e, principalmente, preservando sua saúde. E isso passa necessariamente pelo fim de todas as formas de assédio moral nas agências e departamentos.”
Raquel destaca, ainda, que o combate ao assédio moral será um dos principais temas debatido no Congresso Nacional do BB que acontecerá em julho.

Marcelo Santos e Jair Rosa - 10/06/2011

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