segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Crédito na economia brasileira deve ir a até 70% do PIB

  
Valor Econômico
Felipe Marques 

O crédito vai seguir ganhando espaço na economia brasileira, porém crescerá em ritmo mais lento daqui em diante. Hoje representando 50,6% do Produto Interno Bruto, o estoque das operações de crédito deve avançar para perto de 70% do PIB ao longo de dez anos, segundo economistas ouvidos pelo Valor. 

Eles concordam que a velocidade de avanço será mais moderada que aquela registrada nos últimos anos, beirando os 15% ao ano, sinal de uma expansão mais "sustentável". Em julho, o estoque de crédito atingiu R$ 2,18 trilhões.

Dados de julho do Banco Central reforçam a tendência de moderação do crédito. O estoque de financiamentos cresceu 17,7% no período de doze meses encerrado em julho. Em doze meses até junho, a alta foi de 17,9% e, até maio, de 18,3%. Em 2008, o crescimento chegava a 30% ao ano. Claramente, a taxa está desacelerando.

"Projetamos que a relação crédito e PIB alcançará cerca de 64% nos próximos dez anos", afirma Octavio de Barros, diretor do departamento de pesquisa e estudos econômicos do Bradesco. "Esperamos que a taxa atual de crescimento [do estoque de crédito], ao redor de 16% ao ano, passe para uma média em torno de 11% ao ano nos próximos dez anos", calcula.

"Apesar do crescimento acelerado nos últimos anos, o total de empréstimosbancários como proporção do PIB no Brasil ainda é relativamente baixo quando comparado a outros países", observa Carlos Faria, economista-chefe do Deutsche Bank. Dados do Banco Mundial mostram a proporção crédito e riqueza no Brasil atrás de Chile e África do Sul, por exemplo.

"A contribuição do crédito para alavancar o crescimento econômico passará a ser muito menor nos próximos anos", avalia Luiz Fernando Figueiredo, sócio da gestora Mauá Sekular Investimentos e ex-diretor de Política Monetária do BC. Ele estima um avanço anual na faixa de 10% a 15% do estoque de operações para a próxima década. "Há um processo de realocação do crescimento do crédito de consumo para o setor imobiliário."

Pelos cálculos do HSBC, o incremento da relação entre crédito e PIB deve ser de 1 a 2 dois pontos percentuais ao ano para os próximos anos, já que vem caindo a diferença entre crescimento do crédito e do PIB, segundo André Loes, economista-chefe do banco. Ele estima que as taxas médias de crescimento anual do crédito fiquem entre 13% e 15% e as do PIB nominal entre 9% e 10% na próxima década. "Não é um crescimento tão expressivo como no passado e acredito estar em linha com o que o Banco Central espera."

Para o BC, a taxa de equilíbrio do crescimento anual do crédito estaria em 16%, segundo estudo publicado no site da autoridade monetária, que tem entre seus autores o diretor de Regulação do BC, Luiz Awazu Pereira da Silva. O próprio diretor, em evento recente em São Paulo, afirmou que, no passado, houve "um crescimento excessivo de certos segmentos do crédito", mas que o BC agiu para limitá-lo. Defendeu ainda que a relação crédito e PIB "ainda comporta espaço de crescimento com segurança."

O Santander calcula patamar de crescimento do crédito próximo ao do BC para horizonte de cinco a dez anos. "A taxa sustentável está entre 16% e 18% ao ano", afirma Maurício Molan, economista-chefe do banco. Para chegar nesse percentual, o banco considerou três parâmetros principais: o crescimento da renda, o alongamento de prazos dos empréstimos e a queda nos juros. A conta considera que a base para determinar o avanço do crédito é a expansão da massa salarialnominal. Ou seja, se a massa salarial cresce a 10% no ano, como ocorre hoje, o patamar mínimo de crescimento do crédito é de 10%. Aumentos de prazos e quedas nos juros das operações incrementam esse crescimento.

Segundo cálculos do banco, cada mês adicional do prazo médio de financiamentos dá espaço para um acréscimo de 2,1 pontos percentuais na taxa de crescimento anual do estoque do crédito. Já uma queda de um ponto percentual nas taxas de juros das operações aumenta em 1,1 ponto percentual a taxa de crescimento.

"Um crescimento de 15% no saldo é razoável no prazo médio. Mas a parcela mais importante desse avanço deve vir da pessoa jurídica" diz o ex-diretor do BC e estrategista da Tandem Global Partners, Paulo Vieira da Cunha. Na pessoa física, ele avalia que a política de salário mínimo da administração Lula trouxe o segmento de baixa renda para o crédito, mas que esse movimento se esgotou. "É um processo que teve um salto, mas que agora avança de forma mais paulatina."

No curto prazo, as taxas de avanço do estoque de crédito devem se beneficiar de um "crescimento vegetativo", em que os juros altos das operações contratadas no passado aumentam a velocidade do avanço, avalia Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados. Entretanto, como o prazo médio dos empréstimos com recursos livres no Brasil é pequeno (cerca de um ano e meio) deve ocorrer uma substituição do estoque de empréstimos por operações com juros menores, limitando o crescimento do saldo de operações apenas graças aos juros.

Zara estima que o crédito no Brasil chegue a até 80% do PIB em até duas décadas. "Extrapolar esse nível depende de resolver os grandes gargalos da economia brasileira, como a falta de infraestrutura."


Fonte: Valor Econômico

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