segunda-feira, 14 de março de 2011

Para Contraf, ata do Copom traz sinais tímidos de mudança na política de juros



Crédito: Contraf-CUT
Contraf-CUT A ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que na semana passada subiu a taxa básica de juros (Selic) pela segunda vez seguida em 2011, de 11,25% para 11,75% ao ano, surpreendeu o mercado financeiro ao revelar que o Banco Central pode reavaliar a estratégia de utilizar apenas os juros como instrumento contra as pressões inflacionárias. O texto foi divulgado pelo BC na quinta-feira, dia 10, em Brasília.

Para a Contraf-CUT, a sinalização foi considerada tímida e insuficiente para uma mudança de rota na política monetária. A confederação, que representa cerca de 90% dos bancários de todo Brasil, havia se manifestado logo após as últimas elevações da Selic, criticando as medidas e reafirmando a necessidade de romper com a política de combater a inflação via aumento da taxa de juros.

"A subida da taxa Selic é nefasta para a economia do Brasil, pois inibe o crescimento, a geração de mais empregos e o desenvolvimento econômico e social do país", reafirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.

Na ata do Copom, o BC sinaliza que passará a contar com novas medidas alternativas para conter o crescimento da economia, a manutenção do dólar no patamar atual e a redução anunciada pelo governo nos gastos públicos. "Não acreditamos que essas medidas sejam eficientes, uma vez que a taxa de juros continua sendo a mais alta do mundo, favorecendo a minoria privilegiada detentora de títulos públicos, principalmente os bancos que lucraram mais de R$ 43 bilhões em 2010", aponta o dirigente sindical.

O BC afirma, pela primeira vez em um documento oficial, que trabalha com um cenário alternativo, que leva em conta a manutenção da taxa de câmbio no nível atual, mas considera o aumento de juros esperado pelo mercado. Nesse caso, a projeção de inflação se encontra acima da meta em 2011, mas ligeiramente abaixo em 2012.

O presidente da Contraf-CUT reitera que "não há embasamento técnico que justifiquem novas elevações na taxa de juros, ainda que menores". Para ele, "a subida da inflação nos últimos meses, como mostram as pesquisas do Dieese, deve-se às majorações de preços de algumas commodities agrícolas, não havendo nenhum indício de que tenham sido provocadas pelo aumento da demanda".

Conforme a ata, o BC diz contar ainda com "a eventual introdução de ações macroprudenciais", ou seja, de medidas alternativas para conter o crédito e o crescimento da economia. "Ao se considerar esse cenário alternativo e as perspectivas de desaceleração da atividade doméstica, bem como a complexidade que ora envolve o ambiente internacional, entre outros fatores, a eventual introdução de ações macroprudenciais pode ensejar oportunidades para que a estratégia de política monetária seja reavaliada", diz o Copom.

A ata do Copom prevê dois momentos distintos para a trajetória de inflação em 2011. Até o terceiro trimestre, a inflação acumulada em 12 meses tende a permanecer em patamares similares ou mesmo superiores àquele em que atualmente se encontra, devido à herança da inflação de 2010. "Entretanto, a partir do quarto trimestre, o cenário central indica tendência declinante para a inflação acumulada em 12 meses, ou seja, deslocando-se na direção da trajetória de metas", diz o texto.

Carlos Cordeiro alerta que "o BC não pode seguir cedendo às chantagens do mercado financeiro, acostumado a ganhar bilhões de reais com as altas de taxas, em prejuízo do direcionamento do crédito para os setores da economia geradores de emprego e renda". Para ele, "o aumento dos juros faz mal para a economia e a sociedade brasileira".

O dirigente da Contraf-CUT defende "a introdução de metas sociais no BC, como o aumento do emprego e da renda para os trabalhadores e a redução das desigualdades sociais". Segundo ele, "o crescimento econômico precisa ser acompanhado da redução das desigualdades na distribuição de renda, na medida em que o país é campeão na concentração das riquezas nas mãos de poucos".

"O governo Dilma e o BC precisam ainda enfrentar o spreed bancário, que é hoje o principal fator de transferência de renda da sociedade, especialmente dos trabalhadores, para o sistema financeiro. Em nenhum outro lugar do planeta, existe taxa igual de retorno sobre o patrimônio como no Brasil. Aqui, a cada três anos, o banco dobra o seu patrimônio", ressalta.

Por fim, Carlos Cordeiro sustenta "a necessidade de representação da sociedade civil organizada no Conselho Monetário Nacional, como forma de garantir a participação de todos os atores sociais, especialmente os trabalhadores, nas decisões econômicas que afetam a vida de todas as pessoas".

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